quarta-feira, 18 de março de 2015

     Ocorreu tudo que não se espera que ocorra numa comemoração, ou ocorreu o que era de se esperar?

     Um ano que tinha tudo para ser incrível acabou se tornando um pesadelo. Certo? 2014 foi marcado pela celebração do centenário da aviação civil, porém também marcou o início de um novo mistério (considerado agora o maior da história da aviação). O ano também registrou inúmeros acidentes aéreos e suas muitas vítimas fatais, cujo número nesse ano ficou acima da média anual que vinha sendo registrada (informação que agora foi confirmada pela IATA e não é mais especulação).

     Vamos fazer uma breve linha do tempo de 2014. O ano começou com as comemorações lembrando os 100 anos da aviação comercial. Tudo ocorria bem, até que... some um 777 em março, uma das aeronaves mais modernas do mundo, realizando o voo MH17 da Malaysia Airlines. Em julho... mais um 777 da Malaysia sofre acidente, que não foi computado pela IATA (com toda razão) já que ele foi abatido, um resultado da fobia militar frenética que existe na Ucrânia. Porém, julho ainda não acabou e registra mais dois acidentes: cai um ATR 72 da TransAsia e um MD 83 da Swiftair. Para finalizar o ano, em 28 de dezembro cai um A320 da AirAsia.

     Feita essa cronologia podemos concluir que o ano passado foi um prato cheio para os sensacionalistas, que não mediram esforços para aterrorizar as pessoas. "Veja que vexame", diziam eles, "o ano do centenário marcado por tantos acidentes fatais e tantas mortes". E acrescentavam: Como o avião pode ser considerado o meio de transporte mais seguro do mundo? Vejam só que absurdo, cem anos e nenhum progresso, pessoas ainda morrem viajando de avião.

     Sim, sensacionalistas, pessoas ainda morrem por acidentes de avião. Mas pessoas também morrem quando, por acaso, um meteoro cai em suas cabeças, quando suas casas pegam fogo ou quando qualquer coisa inesperada nesse estilo acontece. Morrer de um acidente de avião se tornou algo impensável, ou algo tão raro quanto esses casos que eu mencionei agora. Ou seja, viajar de avião seria tão inseguro quanto ficar no conforto da sua casa ou sair na rua.

     Agora vamos falar sobre o que os sensacionalistas não citam...

     Mortes e acidentes são sempre ruins, trágicos, algo que ninguém deseja, porém na aviação eles não são em vão. Não estou dizendo que acidente é uma coisa boa na aviação, muito pelo contrário. O que estou dizendo é que não há um acidente sequer que não seja estudado e sirva de melhoria para o setor. Tudo nesse ramo é pensado para que nada dê errado, mas infelizmente algumas vezes as coisas ainda saem do controle. A Lei de Murphy é a lei-mor da aviação, pautando as ações desta para evitar erros que possam ser fatais. É a partir dela que temos na aviação o que chamamos de redundância.

     O que chamamos de redundância é o fato de que todos os sistemas vitais da aeronave possuem seus substitutos, um sistema reserva. Esse é apenas um exemplo dos vários tipos de redundâncias presentes na aviação. Essa redundância se deve à Lei de Murphy, mas também se deve ao fato de que a aviação vem aprendendo com os erros desde que o primeiro avião decolou.

     Então, caríssimos, o que quero dizer é que os acidentes não são comemorados pela aviação e tentamos evitá-los ao máximo, e é isso que fez do avião o transporte mais seguro do mundo. A questão é que, infelizmente, a aviação não é perfeita e em algum momento algo pode dar errado, mas é aí onde se encontra uma das maravilhas da aviação: os acidentes não são negligenciados.

     Por fim, tendo em mente o último parágrafo, o ano passado deve continuar com o título de memorável, tanto pelo centenário, quanto pelo fato de que vimos que ainda temos muito o que melhorar e aprender. Estejam certos de que as mortes de 2014 foram honradas, como sempre acontece na aviação. Os acidentes serviram mais uma vez de aprendizado para que sejam evitados no futuro. Já os mortos sempre serão lembrados e de agora em diante serão heróis, pois sua morte servirá para impedir que outros venham a falecer em acidentes ocasionados pelos mesmos motivos.

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