sexta-feira, 22 de maio de 2015
Qual o legado que ficará em relação ao voo 9525 da Germanwings? O que será feito para evitar novos acidentes como esse?
Sei que faz algum tempo, mesmo assim gostaria de registrar aqui minha opinião sobre o caso do voo 9525 da Germanwings. Desde o começo tive a intenção de comentar sobre o acidente, porém decidi ser cauteloso e esperar os relatórios oficiais para expressar minhas conclusões. Minha vontade de escrever sobre o caso cresceu ainda mais depois de ver algumas opiniões e comentários sobre o acontecido, pontos de vista um tanto quanto agressivos em relação a aviação e que foram feitos sem nenhum embasamento.Feitas as considerações iniciais, gostaria de fornecer alguns dados sobre o voo para então expor minhas conclusões. O 9525 era um voo operado pela Germanwings entre Barcelona e Düsseldorf. No dia do acidente (24/03/2015), a aeronave que operava a rota era um A320, prefixo D-AIPX, que iria completar 25 anos. O capitão do voo era Patrick Sondenheimer, que tinha 34 anos e dez anos de experiência de voo, e o copiloto era Andreas Lubitz, de 27 anos e com experiência de 630 horas de voo.
Como você já deve saber, a tragédia foi ocasionada pelo copiloto, que deliberadamente derrubou a aeronave. Essa conclusão foi tirada a partir da análise das caixas-pretas do A320, que revelaram que o copiloto aproveitou a ida do capitão ao banheiro e se trancou sozinho na cabine derrubando o avião intencionalmente. Ele fez a aeronave colidir contra os Alpes-de-Haute-Provence, na França, matando as 150 pessoas que estavam a bordo, entre tripulantes e passageiros.
O caso do voo 9525, na verdade, foi um ato criminoso e não um acidente - pelo menos é como interpreto. Em uma analogia bem simples, da mesma forma que a morte intencional de uma pessoa é considerada um homicídio, a derrubada intencional de uma aeronave também deve ser considerada um crime e não deve ser tratada como um acidente.
A tragédia da Germanwings mostra infelizmente o quanto o fator humano ainda é frágil na aviação. Os avanços foram muitos nesse quesito, pois a indústria veio aprendendo ao longo dos anos e conseguiu ir limitando os erros humanos através de novas tecnologias, porém elas não foram suficientes para eliminar todos eles. Temos que a grande maioria dos acidentes na aviação ainda continuam sendo fruto de equívocos por parte do homem.
Então, a solução seria eliminar o ser humano dos procedimentos de voo, certo? Errado! Não podemos fazer isso, porque ainda não existe uma forma - no mínimo segura - para eliminar o homem desses processos. Mesmo assim, isso não pode ser utilizado (e não é) como justificativa para aceitar que os erros humanos são parte inerente do processo. Tanto não são utilizados como justificativa que, como já falei, a aviação está sempre criando mecanismos para neutralizar esses erros.
O próprio ato criminoso do voo 9525 só acabou sendo possível devido a um mecanismo de neutralização do erro humano criado por especialistas da área, que, após os ataques do 11 de setembro, criaram novas resoluções em relação a cabine dos pilotos. Depois dos ataques terroristas, a cabine de comando se tornou uma espécie de caixa forte, onde uma pessoa só pode entrar nela caso quem esteja dentro permita. Isso impede que pessoas com má intenção entrem na cabine, mas também permite que alguém mal-intencionado se tranque lá dentro.
Perceba, nesse caso, que a solução para um problema acabou abrindo espaço para outro, o qual provavelmente não foi possível ser detectado. Nem poderia! Imagina aí: você seria capaz de prever que uma pessoa selecionada, treinada e supervisionada para operar um avião em segurança se tornaria a própria ameaça? Essa é uma situação tão inimaginável quanto colidir a aeronave contra uma torre no meio de uma metrópole.
A aviação, portanto, consegue limitar os erros e neutralizá-los, mas existem situações que são tão surreais que nem o especialista mais insano do setor pode prever. O caso da Germanwings é um exemplo disso, mas agora, sabido que mesmo os pilotos que passam por um rígido processo de seleção, treinamento e supervisão podem cometer atos como esse, nenhum tripulante poderá ficar sozinho na cabine.
Assim como os demais relatórios finais de acidentes na aviação, que apontam soluções para o problema que levou ao acontecido, o da Germanwings apontou que, para evitar novos acontecimentos como o do voo 9525, é preciso que tenha pelo menos dois tripulantes na cabine o tempo todo. Com isso, a cabine continua sendo impenetrável, mas agora não terá como se tornar o forte de um louco.
Isso posto, gostaria de finalizar dizendo que uma fatalidade como essa não pode servir de pretexto para colocar a reputação da aviação em risco. Ela continua sendo o transporte mais seguro que existe e isso apenas tende a melhorar. Isso só é possível porque ela tem um diferencial: ela é preventiva e anula o máximo de erros que consegue; já os erros que ela não consegue prever - afinal ela é criação do homem e o homem tem conhecimento limitado -, quando eles aparecem, ela cria mecanismos para que eles nunca mais ocorram.
Marcadores:A320,Acidente,Aviação internacional,Crítica,Europa,França,Segurança,Tecnologia
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